O primeiro protótipo da airfryer parecia mais uma engenhoca de laboratório do que um eletrodoméstico: era do tamanho de um canil e feita com madeira, alumínio e tela de galinheiro.
A invenção nasceu nos Países Baixos, em meados dos anos 2000, quando o engenheiro Fred van der Weij decidiu tentar resolver um problema doméstico: fritar sem óleo, sem sujeira e sem riscos.
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Os primeiros testes foram um desastre, mas, alguns protótipos (e anos) depois, Fred acertou a mão e viu sua criação ganhar o mundo.
Em 2011, a airfryer chegou ao Brasil como um produto europeu de luxo e preço salgado: R$ 1.100, em uma época em que o salário mínimo era R$ 545. Quem trouxe a invenção foi a Philips, que já havia apresentado o produto na Europa um ano antes.
A promessa era que o aparelho traria praticidade, saúde e tecnologia para a cozinha, mas a nova tecnologia também veio acompanhada por desconfiança e rumores de que poderia estar contaminando a comida com substâncias nocivas.
De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, há airfryers com forno, modelos tamanho família e até versões que custam por volta de R$ 300. Conheça a história por trás dessa invenção que virou parte essencial da cozinha de muitos brasileiros.
A história da airfryer começou com um incômodo
A ideia do eletroportátil surgiu em 2005, quando Fred van der Weij conversava com um vizinho sobre como as fritadeiras de imersão – aquelas que precisam ser mergulhadas em óleo quente para fritar os alimentos – eram perigosas, engorduradas e pouco saudáveis.
Em entrevista dada à BBC em 2024, Suus van der Weij, filha do inventor, revela que Fred se pôs a trabalhar naquela mesma noite para construir um primeiro protótipo de um novo eletrodoméstico.
O aparelho criado era enorme, improvisado com madeira e alumínio, e usava tela de galinheiro no lugar do cesto.
No primeiro teste com comida – batatas fritas congeladas –, o resultado foi desastroso. “As batatas ainda estavam congeladas, mas as pontas estavam queimadas. Estavam metade murchas, metade congeladas, suadas. Estavam nojentas”, disse Suus, rindo.
Fred seguiu experimentando. Com o segundo protótipo, menor, o primeiro acerto veio. “Foi o primeiro petisco que ele deixou na cor certa. As batatas ficaram amarelas e o frikandel (tipo de salsicha holandesa) ficou marrom”, lembrou a filha.
Fred ainda construiu mais dois protótipos antes de apresentar a versão final para a Philips. O anúncio oficial do produto aconteceu somente em 2010, na feira IFA, em Berlim, evento onde as marcas de eletrônicos expõem suas novidades.
Meses depois, a Philips fechou um acordo para produção em escala e adquiriu a patente.
“Seria de se imaginar que ele teria se tornado um milionário. Isso não aconteceu”, disse Suus à BBC.
“Na maioria das vezes, os inventores não ganham tanto dinheiro quanto as pessoas que vendem suas invenções. Mas ele ganhou um bom dinheiro, nós pagamos nossas dívidas e fomos em ótimas viagens”, contou Suus. Fred faleceu em 2022, aos 60 anos, vítima de câncer.
Um luxo com cara de Europa
A airfryer chegou ao Brasil em 2011, um ano depois de sua introdução na Europa. Por aqui, a novidade era difícil de explicar – e o valor, R$ 1.100, elevado para o consumidor local.
“Era totalmente de luxo. Era um eletrodoméstico bem caro. Se eu pegasse o liquidificador mais caro que a gente tinha no portfólio, a airfryer ia ser 4 ou 5 vezes mais cara”, conta Luciana Bulau, diretora de marketing da Philips na época.
A solução da empresa foi apostar na Polishop, conhecida por vender produtos inovadores e importados.
Deixar o nome do produto sem tradução foi, inclusive, uma decisão conjunta entre as duas marcas.
“Trouxemos exclusividade pra Polishop, para testar o mercado, e eles mesmo falaram: vamos manter airfryer. Porque o consumidor brasileiro gosta dessas coisas mais com cara de ‘veio da Europa’”, explica Bulau.
“A tradução ia ficar péssima, porque ficaria ‘fritadeira a ar’. E ‘fritadeira’, no Brasil, já tinha um sentido mais pejorativo, remetia a fritura a óleo”, lembra Bulau.
Mesmo com o nome estrangeiro, o sucesso da airfryer no Brasil superou as previsões. “Ninguém esperava, na época e com esse valor, que virasse um fenômeno”, conta Luciana Bulau.
“Vendeu muito. A gente não dava conta de trazer mais aparelhos para o país. O Brasil virou um caso de referência de adoção da airfryer muito rapidamente”, diz ela.
Suspeitas sobre a segurança
Apesar do sucesso e da fama de ser saudável, a airfryer também enfrentou desconfiança do público. Até hoje, boatos compartilhados nas redes sociais sugerem, sem comprovação, que o aparelho poderia liberar metais pesados e substâncias tóxicas.
Em um caso desmentido pelo Fato ou Fake, em 2025, uma mulher alega que o eletrodoméstico pode “soltar vapores tóxicos” e fazer com que uma batata cause “picos de insulina” no corpo.
No entanto, segundo a reportagem, não há nenhuma evidência científica de que airfryers vendidas no Brasil emitam substâncias perigosas durante o uso.
A reportagem ainda destaca que todos os aparelhos legalmente comercializados passam por testes de segurança e desempenho conduzidos pelo Inmetro, justamente para avaliar se há qualquer tipo de risco químico ou físico.
Além disso, o g1 consultou professores e engenheiros especializados em ciência dos materiais, que reforçaram que os componentes utilizados nas fritadeiras — como o revestimento antiaderente e as peças metálicas — são estáveis nas temperaturas usuais de cozimento e não liberam toxinas ao entrar em contato com os alimentos.
Abaixo, veja alguns modelos modernos de airfryer. Eles custavam de R$ 320 a R$ 650, quando consultados nos principais sites de venda da internet, em julho.