Sem olhar para trás não se projeta o que virá. Senhoras e senhores, entrou em campo, com o nome de União Progressista, a maior federação de partidos jamais formada desde a redemocratização do país em 1985. Ela promete fazer oposição a Lula, embora não abdique dos quatro ministros que tem no governo.
Como se vê, o roteirista do filme “Brasil” é insuperável. Que tal um ditador, derrubado pelos militares que o apoiavam, voltar ao Poder pelo voto popular e, em seguida, matar-se para não ser deposto? Com Getúlio Vargas foi assim. E o povo, que na véspera pedia sua cabeça, com o suicídio passou a pedir a cabeça dos seus algozes.
Que tal um presidente, dono de uma carreira vertiginosa, eleito com uma maioria esmagadora de votos, renunciar ao cargo em apenas seis meses e sem que ninguém o pressionasse? Foi o que fez Jânio Quadros porque queria retornar nos braços do povo e com um Congresso enfraquecido. O povo simplesmente o ignorou.
Que tal um político esconder por meses a fio a deterioração de sua saúde para que nada o impedisse de suceder a um presidente que dizia preferir cheiro de cavalo a cheiro de povo? Tancredo Neves se elegeu. Na véspera da posse foi operado. Assumiu seu vice, José Sarney. Tancredo morreu depois de ser operado sete vezes.
E Bolsonaro, hein? Nem ele acreditava que se elegeria presidente, muito menos com o apoio dos militares. Lançou-se candidato para impulsionar a carreira política dos filhos. Planejava curtir a vida com sua terceira mulher, Michelle, e a filha que atribuía a um descuido. Foi o único presidente candidato à reeleição derrotado.
União Progressista, uma junção dos partidos União Brasil e Progressistas, remete à Arena, o partido da ditadura militar de 64. Seu DNA é o mesmo: conservador, de direita extrema se necessário, capaz até de flertar com um golpe, a depender das circunstâncias. ACM Neto, um dos seus expoentes, afirma:
“”Bolsonaro é um personagem político com um tamanho e densidade eleitoral inegável no campo da direita. Ninguém pode querer construir um projeto de enfrentamento ao PT sério, competitivo e vitorioso sem considerar isso. Tem que considerar o peso e o tamanho de Bolsonaro; é preciso dialogar.”
Quer dizer: é melhor dialogar com um golpista, às vésperas de ser condenado e preso por tentativa de abolição da democracia, a dialogar com Lula, o principal alvo dos golpes fracassados de dezembro de 2022 e de janeiro de 2023. Quem sai aos seus não degenera. E do ventre da Arena saíram o União e o Progressistas.
Extinta a Arena, nasceu o PDS, depois Partido Progressista Reformador, Partido Progressista e, por fim, Progressistas. O União Brasil era uma costela do PDS, que depois adotou o nome de PFL. O PFL pariu o Democratas, que pariu o União Brasil, que se fundiu com o resto do PSL que apoiara Bolsonaro em 2018.
Portanto, é “tutta brava gente”, conhecida também como Centrão ou uma parte dele. A federação União Progressista nasce gigante: 109 deputados federais; 14 senadores; 1.343 prefeitos; seis governadores; R$ 953,8 milhões em Fundo Eleitoral e R$ 197,6 milhões em Fundo Partidário, em números do ano passado.
Não bastasse, controla quatro ministérios do governo ao qual se opõe: Integração Nacional com Waldez Góes, Comunicações com Frederico Siqueira, Turismo com Celso Sabino e Esportes com André Fufuca. Sabino diz crer que o União Progressista apoiará a reeleição de Lula no próximo ano. Será? Duvido.
É mais fácil apoiar o adversário de Lula. O mais provável é que se parta, com um pé em cada canoa.