Pesquisadores australianos descobriram que o antídoto utilizado para salvar pessoas picadas por cobras marrons orientais (Pseudonaja textilis) pode não ser tão eficaz dependendo do caso. Os cientistas identificaram que o veneno do animal tem um modo de ação duplo, causando reações diferentes no corpo.
A pesquisa foi liderada pela Universidade de Queensland, na Austrália, e publicada na revista científica Toxins na última segunda-feira (18/8).
A equipe de pesquisadores investigou toxinas de coagulação sanguínea em venenos de todas as espécies de cobras marrons australianas. Enquanto alguns venenos formavam um coágulo sólido no sangue, outros criavam rapidamente uma rede de coágulos frágil e que se desfazia em pouco tempo.
“Ambos os venenos podem matar, mas o fazem de maneiras completamente diferentes”, explica o coautor do artigo, Bryan Fry, professor da UQ, em comunicado.
Origem das cobras influencia
Para avaliar as toxinas de coagulação sanguínea em venenos, os cientistas utilizaram um método chamado tromboelastografia. Os resultados mostraram que as cobras marrons orientais do sul australiano têm um veneno parecido com o das taipan – cobras nativas da Austrália e uma das mais venenosas do mundo –, formando coágulos fortes e estáveis.
Já o líquido tóxico das populações do norte teve um modo de ação diferente, criando coágulos sanguíneos frágeis, mas muito rápidos. Ou seja, dependendo da área, a picada da cobra pode ter efeitos distintos.
“Se não tiver veneno de cobra marrom oriental do norte e do sul, a cobertura pode ser irregular e a eficácia do antídoto pode variar muito”, alerta Fry.
Um sequenciamento de genoma feito pela equipe mostrou que a variação do efeito do veneno pode estar ligado à rotina alimentar de cada espécie. Cobras do sul consomem mais répteis, enquanto as do norte comem mais mamíferos.
Reavaliação dos antídotos
Os relatórios clínicos sobre os casos de picadas de cobras marrons na Austrália não levam em consideração a espécie ou a localização dela. O próximo passo é analisar as diferenças e testar com urgência antivenenos humanos e veterinários disponíveis.
O objetivo dos cientistas é criar antivenenos para a cobra e o paciente certos. “Ao apreciar tanto o ajuste fino evolutivo quanto os resultados clínicos desses venenos, podemos adaptar melhor nossas respostas médicas”, diz Fry.
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