O Condomínio Brasil é aquele onde uns blocos têm piscina aquecida, academia e elevador panorâmico, e outros mal têm porteiro. Traduzindo: alguns Estados nadam em fábricas, agro forte e empregos; outros ficam contando os boizinhos e esperando que a soja, a laranja e o cafézinho subam de preço. As Reformas são feitas pelos grandes e para os grandes.
Essa diferença não é só piada de botequim. Foi analisada por um timaço de economistas brasileiros de excelência: Ben-Hur Francisco Cardoso, Eva Yamila da Silva Catela, Guilherme Viegas, Flávio L. Pinheiro e Dominik Hartmann, no estudo *Export complexity, industrial complexity and regional economic growth in Brazil* (2023). Eles investigaram dados de 558 microrregiões brasileiras entre 2003 e 2019 e chegaram a uma constatação: quem tem indústria sofisticada cresce mais rápido. Viva São Paulo! Viva a Reforma Tributária! São Paulo só tem que produzir água para segurar os brasileirinhos de cabeça chata, além de se auto declarar Síndico do Condomínio Brasil. O pobre santo será enterrado, novamente, de cabeça para baixo e sem entender o motivo.
Segundo o estudo, não basta exportar muito. O que dá força ao desenvolvimento é a complexidade industrial — ou seja, a variedade e a sofisticação do que se produz em casa, o mix de produtos deve ser grande. É como cozinhar: não adianta só ter arroz e feijão; quem tem também tempero, carne e sobremesa consegue atrair mais gente pra mesa. O Baião de Dois só se faz com ingredientes bem temperados.
Agora, imagine os Estados com indústria fraquinha, só com servicinhos meia-boca, como sobreviverão com a alíquota passando de 6% para 28%. Eles ficam meio amarrados, porque dependem quase sempre de atividades primárias — agricultura básica, extrativismo, comércio de baixo valor agregado. Isso gera receita? Claro que gera. Mas não cria empregos suficientes, nem dá salto de renda, poderá dar salto de migração, por falta de competitividade para um modelo pensado para estados com alta produção industrial, que ganha na compra e na venda dos seus produtos. Resultado: o jovem formado em engenharia em um Estado “monoprodutor” acaba migrando para São Paulo, Minas ou Paraná, onde a indústria é mais robusta e o agro funciona em escala de exportação, apesar do Lourão Trump estar jogando pesado com a nossa gente.
Os autores mostram ainda que o crescimento é “contagioso”. Se uma microrregião tem vizinha industrial forte, pode se beneficiar do transbordamento: empresas satélites, serviços de apoio, fornecedores. É o famoso “vizinho rico que empresta açúcar, café e din-din”. Mas se o Estado está isolado, sem vizinhos de peso, aí é como morar em condomínio com piscina vazia: não há muito o que fazer. O Piauí sofre dessa asfixia e ainda é brasileiro. O Deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança, que aprendeu a ler e escrever, em vários países, desde os seus parentes letrados, aprofundou-se nesta questão e pediu ao Dr. Bernardo Appy, Padrasto Paulista da Reforma, que nos orientasse com os impactos dos seus estudos, dentro de cada Estado da Federação. O reformista aceitou o pedido e falou na mexida do Simples. Assim ficou muito Simples, Sr. Economista.
E aí mora o problema. Muitos Estados brasileiros com baixa industrialização podem ver sua população mais jovem migrar para regiões com agro e indústria fortes, acentuando o desequilíbrio. Não é só a cabeça de gado que viaja no caminhão; é o trabalhador, o professor, o empreendedor que vai tentar a sorte no “andar de cima” do Condomínio Brasil.
E isso não é futurologia pessimista. Já acontece. Basta olhar os dados de deslocamento de trabalhadores para polos industriais do Sudeste ou agroexportadores do Centro-Oeste. Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo, viraram imãs de mão de obra, com salários melhores na agroindústria e na logística. Enquanto isso, Estados com baixa diversificação ficam discutindo qual festa regional vai atrair mais turistas no feriado. Existem cidades no Amazonas e em Roraima, em que as populações são 85% de maranhenses, pagos para migrar.
Claro, a solução não é simples. Reforçar a infraestrutura, investir em educação técnica e atrair capital produtivo exige estratégia de longo prazo. Mas, convenhamos: quando a política prefere brigar por emenda no orçamento secreto do que por um parque tecnológico, o futuro chega “engatinhando” e enferrujado.
O recado do estudo de Cardoso e notáveis companhias é direto: apostar na complexidade industrial é o caminho para garantir crescimento regional sustentável. Traduzindo: é melhor diversificar agora do que chorar depois, chupando os dedos, vendo a fila de ônibus, lotados de jovens conterrâneos, promissores, rumo ao Estado vizinho.
No fim, o Brasil é um só, mas com velocidades diferentes e combustíveis diversos. Uns Estados andam de avião, outros de bicicleta. Se nada mudar, a migração continuará sendo a saída natural — afinal, quem quer ficar parado na rodoviária esperando um trem que nunca passa, porque a ferragem dos trilhos apodreceu?
O jogo está colocado: ou alguns Estados investem para virar mais que “fornecedores de fracas commodities”, ou vão virar eternos exportadores de gente talentosa e empobrecer. Porque, no Condomínio Brasil, a economia é como o nosso atual futebol: quem não tem craque no time, acaba “entregando” a promessa pro vizinho.
Roberto Caminha Filho, economista, aposta na crise que arrumaram para São Paulo, o grande Síndico do Condomínio Brasil.