Dois crimes bárbaros em 4 meses chocam cidade pacata no interior de SP


A cidade de Pontal, localizada na região metropolitana de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, figurou duas vezes no noticiário policial nacional, recentemente, como o local de dois crimes bárbaros e que chocaram a opinião pública em 2025.

A pequena e pacata cidade — segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município não chega a ter 38 mil habitantes — é palco da investigação policial sobre a mãe é acusada de envenenar a própria filha, com ajuda do filho, além do brutal assassinato de um adolescente torturado após ter furtado um celular esquecido em um depósito. Ambos os crimes aconteceram em fevereiro e junho, respectivamente.

Mãe e filho acusados de envenenar mulher

Elisabete Arrabaça, de 67 anos, é investigada pela Polícia Civil de Ribeirão Preto por ter envolvimento na morte da própria filha, Nathalia Garnica, de 42 anos, em fevereiro deste ano. O médico, de 38 anos, Luiz Antonio Garnica, filho de Elisabete e irmão da vítima, também é investigado por acusação de participação no crime.

Nathalia morreu no dia 9 de fevereiro após passar mal em casa, em Pontal. À época, seu falecimento havia sido registrado como morte por causas naturais, mas o caso teve uma reviravolta três meses depois, quando Elisabete foi presa junto com o filho suspeita de ter matado, envenenada, em março deste ano, a professora Larissa Rodrigues, de 37 anos. Larissa era sua nora, ou seja, esposa de Luiz Garnica.

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A professora Larissa Rodrigues

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Luiz Antonio Garnica e Larissa Rodrigues

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A professora Larissa Rodrigues

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Luiz Antonio Garnica

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A professora Larissa Rodrigues

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Médico Luiz Antonio Garnica foi preso

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Médico Luiz Antonio Garnica foi preso

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Depois da constatação da morte da professora de pilates por envenenamento com chumbinho, as autoridades começaram a desconfiar que Nathalia também pudesse ter sido vítima própria da família. Por isso, ela teve seu corpo exumado a pedido do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Ribeirão Preto, e os exames confirmaram a suspeita.

“Até então nós não tínhamos nenhuma posição a respeito da morte da Nathalia, mas com o laudo está claro que houve um crime macabro, pelo que a gente tem percebido, porque envolve a sua mãe inicialmente. A investigação está correndo nesse sentido para saber qual é o eventual envolvimento de outras pessoas”, disse o delegado responsável pelo caso, Fernando Bravo, em coletiva de imprensa no dia 18 de junho.

De dentro da cadeia, Elisabete Arrabaça escreveu uma carta, em 31 de maio, na qual afirma Larissa Rodrigues morreu após tomar um remédio que estava com veneno de rato na noite anterior à morte. De acordo com Elizabete, nem ela nem a nora sabiam disso, e as duas tomaram o medicamento por estarem com dor no estômago. No texto, a mãe acusa a filha Nathalia Garnica de ter colocado o veneno em cápsulas de omeprazol. A carta foi anexada pela defesa ao inquérito policial.

De acordo com a polícia, há indícios de que mulher mentiu no texto. “Naquela carta que a Elizabete encaminhou, direcionada para o juiz, ela tenta se eximir da culpa, porém, os laudos indicam que substâncias químicas diferentes [foram ministradas nos dois casos]. O da morte da Larissa tem um princípio ativo e o da morte da Natália tem outro, então, isso demonstra que ela está mentindo”, afirmou o delegado Fernando Bravo.

Em nota ao Metrópoles, a defesa de Elisabete nega seu envolvimento no envenenamento da filha, assim como no de sua nora. Os próximos passos serão analisados após o depoimento de testemunhas e o interrogatório de Garnica e sua mãe.

A defesa aguarda o julgamento de um pedido liminar em um novo habeas corpus impetrado junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). “Entendemos que, independente dos fatos, Elisabete não deveria estar em prisão temporária, pois seu decreto carece de fundamento, bem como, pelo seu comprovado estado de saúde, deveria, alternativamente, estar em prisão domiciliar.”

As autoridades agora se debruçam sobre os dois inquéritos policiais em andamento, um sobre a morte de Larissa e o outro de Nathalia. A equipe analisa celulares, computadores, testemunhos, imagens, documentos e outros dados.

Tanto a mãe quanto o irmão de Nathalia estão presos, desde o dia 6 de maio.

Adolescente torturado por um celular

Alex Gabriel dos Santos, de 16 anos, foi morto na madrugada de 1° de junho, após ter sido espancado e torturado por quatro homens, na Avenida Cristo Redentor, em Pontal.

Os agressores, identificados como João Guilherme Moreira, conhecido como Guizão; Jean Carlos Nadoly, cunhado de Guizão; Alex Sander Benedito do Amaral; Uanderson dos Santos Dias, conhecido como Café, viraram réus na Justiça. Além deles, uma mulher apontada como coparticipante também foi incluída no grupo. A identidade dela não foi revelada por se tratar de uma testemunha protegida.

O Ministério Público de São Paulo (MPSP) denunciou o grupo por homicídio qualificado — por motivo torpe, com emprego de asfixia e tortura, e usando recurso que dificultou a defesa da vítima.

Segunda a denúncia da promotoria, Alex estava em um depósito de bebidas quando encontrou um celular deixado no balcão por um cliente. Ele mostrou o celular para a atendente do estabelecimento, que disse em tom de brincadeira: “De quem você roubou?”. Em seguida, o adolescente foi embora com o aparelho.

Pouco tempo depois, João Guilherme apareceu no depósito e perguntou para a atendente sobre um celular que havia esquecido no local. A atendente disse que o adolescente tinha levado o aparelho e indicou onde ele morava. Então, os dois se dirigiram de carro até o endereço indicado por ela.

Ao chegarem ao local, Alex devolveu “imediatamente” o celular ao dono, como consta no documento. Após pegar o aparelho, João Guilherme “ordenou” que o adolescente entrasse em seu carro e o levou para um estábulo, ainda na companhia da funcionária do depósito.

“Assim que a vítima saiu do automóvel, João Guilherme Moreira, Alex Sander Benedito do Amaral, Jean Carlos Nadoly e Uanderson dos Santos Dias passaram a agredir violentamente o adolescente, atingindo-o nas regiões das pernas, cabeça e barriga”, diz o MPSP.

Ainda segundo a promotoria, durante as agressões, a mulher disse aos homens que o adolescente teria “subtraído” uma bicicleta de uma conhecida dela, “o que incentivou que os indiciados agredissem mais ainda o adolescente”,

A denúncia diz que Uanderson deu golpes com pedaço de madeira nas costas da vítima; Alex Sandro fez o mesmo, além de dar chutes; Jean deu socos e chutes; e João Guilherme usou um chicote para agredi-la na cabeça.

O dono do celular ainda fez com que Alex se ajoelhasse em brasas de uma fogueira que havia no chão e amarrou as mãos dele com uma corda, que também foi enrolada no corpo.

Depois das agressões, João Guilherme levou a mulher embora do local. Ao retornar, o adolescente foi novamente amarrado pelos homens, desta vez com arame farpado. Um saco plástico foi colocado na cabeça dele e um tijolo foi amarrado em seu peito.

Os homens levaram o Alex Gabriel, desacordado, até o Rio Pardo, onde jogaram o corpo. O local foi indicado por Jean Carlos, segundo o MPSP. O cadáver foi encontrado pelas autoridades apenas no dia 7 de junho, quase uma semana depois.

A Justiça decretou a prisão dos quatro homens. O MPSP não representou pela prisão da atendente, porque ela colaborou com as investigações e está mantendo seu paradeiro informado nos autos.


Crimes em Pontal

  • Apesar dos dois crimes bárbaros colorarem o município em evidência na imprensa, Pontal não costuma ser um local violento.
  • Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), nos primeiros cinco meses do ano, a cidade registrou um homicídio doloso (intencional), outro homicídio culposo (não intencional) por acidente de trânsito e uma tentativa de homicídio.
  • Dos crimes hediondos, o município também registrou um latrocínio (roubo seguido de morte), cinco estupros e cinco estupros de vulnerável.
  • O crime mais comum na cidade ao longo de 2025 foi o de furto: 76 casos de janeiro até maio.
  • Lesão corporal dolosa também aparece com um número elevado: 33 registros nos primeiros cinco meses do ano.

 



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