Oficiais de Justiça e advogados de uma gigante do setor de logística têm percorrido pelo menos cinco estados para recuperar caminhões alugados e nunca devolvidos pelo empresário Vanderson de Melo, um influenciador mentorado pelo ex-coach Pablo Marçal que está sob suspeita de trocar placas e esconder os veículos em locais remotos espalhados pelo país.


Vanderson de Melo é mentorado de Pablo Marçal. Próximo do ex-coach, é usado como exemplo de sucesso de seus seguidores e também vende sua “história de sucesso” em palestras
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Caminhões alugados e nunca devolvidos por Vanderson de Melo foram encontrados até em terreno no Pará
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Caminhões alugados foram localizados sendo transportados na caçamba de outro caminhão
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Em suas palestras, Marçal costuma usar o exemplo de Melo como um de seus mentorados de sucesso: “Ele era motorista de caminhão. Hoje, ele tem uma das maiores empresas da América Latina de logística. Esse ano de 2024, já vai bater duas mil placas de carreta, caminhão, os trem doido (sic)”, disse, em uma palestra.
O “mentorado” de Marçal foi seu apoiador de campanha eleitoral, esteve em eventos do pleito à Prefeitura de São Paulo, incluindo debate em televisão, e até pescaria.
Assim como o “mentor”, Vanderson também se considera influenciador e dá palestras sobre sua história de sucesso. Gosta de expor carrões de luxo e viagens ao exterior em suas redes. Mas inquéritos e processos judiciais mostram uma outra faceta do caminhoneiro influencer, que vende ao público uma trajetória inspiradora.
Troca de placas
Como mostrou o Metrópoles, em duas ocasiões, a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal apreenderam caminhões alugados pelo caminhoneiro e influenciador estacionados e rodando por estradas com uso de placas trocadas. Em uma dessas ocorrências, em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, advogados da empresa dona dos veículos filmaram funcionários da empresa de Melo, o Grupo Brasil Novo, tirando às pressas placas dos veículos.
Em outra oportunidade, dois caminhões foram flagrados com placas frias pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em uma rodovia no Rio Grande do Sul. Os agentes pararam os veículos e descobriram junto à seguradora a dívida que deu ensejo ao bloqueio deles.
A Justiça tem autorizado buscas em locais onde a defesa dos proprietários dos caminhões apurou que estão escondidos os caminhões. Foram 40 veículos alugados, dos quais 18 foram recuperados e outros 22 ainda estão sumidos. A guerra judicial milionária envolve uma dívida de R$ 7,2 milhões em locações de caminhões, além da resistência em devolvê-los.
Terreno no Pará
Advogados da empresa dona dos caminhões já encontraram os veículos cobertos por lonas em um terreno em Redenção, no Pará, e em estados como Mato Grosso, Santa Catarina e Maranhão.
Recentemente, encontraram até mesmo dois caminhões sendo transportados na caçamba de um outro caminhão na rua — nesse caso, acabaram escapando com o veículo, que não foi apreendido.
Como é o esquema
O esquema funciona assim: troca-se a placa de um caminhão que é objeto de bloqueio de judicial por outra sobre a qual não recai qualquer ordem da Justiça.
Assim, o veículo roda e os credores nunca o encontram. Em razão da troca de placas dos caminhões, a Justiça tem autorizado a reintegração dos veículos com base na checagem dos números de seus chassis.
“Todo mundo joga pedra”
No último dia 23, após o Metrópoles mostrar o caso, o empresário correu para as redes sociais para se justificar. Disse que a empresa entrou em um “blackout financeiro” e que estuda até encolher a estrutura.
Não comentou o caso das trocas de placas de caminhões, nem apreensões da polícia, mas disse que não há “nada além” da crise financeira vivida pela empresa. “Estamos tomando todas as medidas possíveis por todas essas barbaridades que estão falando por aí”, disse.
“Quando se faz algo que tem uma trajetória de sucesso, ninguém dá muita importância. Agora, quando acontece qualquer deslize ou qualquer momento pontual realmente de dificuldade, todo mundo joga a primeira pedra”, afirmou.