Mott afirma que o artista “no fundo era um gay egodistônico e egoísta” e, como outros, não percebeu “o papel crucial de apoiar a militância” da causa.
Jordão, por sua vez, acredita que mesmo ele não tendo usado nenhum termo para se referir ao cenário LGBT, “o impacto de sua postura pública é inegável” para o segmento. Ela atribui à época essa ambiguidade de posicionamento. “Cazuza viveu sua bissexualidade com naturalidade e sem se esconder, num período de enorme preconceito.”
O que parece consenso, contudo, é a importância de Cazuza para a conscientização sobre a existência do vírus da Aids e a importância dos cuidados para prevenir a doença. “Ele não apenas falou sobre sua condição, mas usou sua vasta visibilidade para quebrar o silêncio em torno da doença.”
Em 1989, foi capa da revista Veja, abordando o fato de ser soropositivo. Para Jordão, isso teve um “impacto massivo”. “Naquele contexto, a simples existência de alguém como ele, jovem, famoso, talentoso, vivendo com HIV e sem vergonha de quem era, já era, por si só, um ato político potente”, argumenta Jordão.
Para o filósofo Beto de Jesus, um dos pioneiros do ativismo LGBT no Brasil e diretor para o Brasil da Aids Healthcare Foundation, a entrevista publicada pela revista semanal foi “avassaladora”. “Trouxe a realidade de que a aids estava atingindo todas as pessoas. Ele teve a coragem de revelar isso, falar das dificuldades e do estigma da discriminação”, comenta.
De 1990 a 2020, os pais de Cazuza, a filantropa Lucinha Araújo e o empresário e produtor musical João Araújo, mantiveram a ONG Sociedade Viva Cazuza, mantida com os direitos autorais da obra do artista. O foco principal da entidade era a assistência crianças e jovens soropositivos.
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